sábado, 29 de janeiro de 2011

A tradição que evolui.

A concepção sambística nasce a partir dos dados que trazemos do passado. E muito se fala de como o carnaval evoluiu. E não por conta da mídia, mas pelo trabalho que foi feito lá trás, quando ainda se pensava no carnaval de rua, que deu abertura para que hoje tenhamos um lugar para o desfile, o sambódromo.

O dinheiro da prefeitura, as fortes manifestações dos sambistas, que muito sofreram para chegar até aqui, são os ingredientes de hoje, da grandiosidade, do glamour.

A festa de Momo não mais é preconceituosa aos olhos da sociedade rica, que muito agregou, deixando de lado velhos conceitos. No entanto quando falamos de certos pontos do samba alguns ainda são difícies de abordar. Como andamento do samba. Dá pra mudar? Não dá. E os mais antigos, como o saudoso Seu Nenê e o veterano Seu Carlão da Peruche, sempre acharam que é "muito pra frente". Mas o que seria do samba sem a evolução? Nada, porque se tudo evolui, temos que evoluir também.

A cidade cresceu, e veio a mídia e os artistas, o estranho é que aqui em São Paulo isso é menos aceito do que no Rio. Lá os artistas participam dos ensaios sem problemas, convivem com os componentes, deveria ser normal aqui também.

As Rainhas de Bateria, na sua grande maioria, são atrizes e estão à frente das baterias nos ensaios, e na avenida brincam, encantam, e acima de tudo, respeitam quem é da comunidade. Várias me chamam a atenção mas, Paola Oliveira, na bateria da Grande Rio, em 2010, não me deixou dúvida de que não é preciso sambar muito e curtir com a escola, apresentar a bateria, ser elegante, e comprometida, são boas combinações para uma Rainha de Bateria.

Foto: AgNews

Obviamente que a tradição é sim necessária, e Mestre Tadeu é a prova disso, sempre fez questão de ter uma mulher negra, da comunidade, como Rainha de sua bateria. No entanto, ele deixa claro que é de bom gosto trazer pessoas que façam diferença. É o caso de nossa Madrinha de Bateria, Maria Rita, que tanto abrilhanta os palcos, hoje está representando a Bateria do Vai-Vai. E, com toda sua elegância, que mostrou num dos ensaios, deixou claro seu respeito e carinho ao cumprimentar a bateria, num gesto singelo, mas lindo. Afinal, respeito é tudo.
Mestre Tadeu e Maria Rita, a prova da evolução.

Portanto caros, mostrar carinho e respeito para com aqueles que fazem a escola o ano todo é um ótimo sinal. E tradição e evolução podem sim andar juntas.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Passista!

O significado da palavra passista que está no dicionário é: “Pessoa que faz passo de Carnaval”. Simples, né? Se não fosse pelo fato de muitos nos chamarem de MULATAS, que tem outro significado: “Filha de pai branco com negra, ou vice-versa”. Ou pior, a forma pejorativa: “Mula”.

Ser passista de escola de samba está intrínseco que estas fazem parte do desfile, coordenadas por uma passista que cuida da ala, e estas podem, na maioria das vezes, fazer parte de shows das suas entidades carnavalescas. Deveriam também saber e entender de carnaval, da história, de comportamento perante a bateria, aos mais velhos, ao pavilhão. No entanto, não vejo essa vontade nas novas passistas.

Acredito que o maior de todos, e que felizmente, ou infelizmente, por usar esse termo: “MULATAS DO SARGENTELLI”. Mas de fato grandes passistas passaram por Sargenteli. Que criou grandes espetáculos com belas mulheres, negras, pardas e mulatas. A quem diga que sua sobrinha, Sandrinha Sargentelli, siga seus passos. Porém, ele foi de fato uma celebridade e até hoje muitos tentam imitá-lo.


O que devemos buscar cada vez mais é a evolução em relação ao samba, ser passista não é difícil, complicado é ser sambista. É defender o pavilhão de suas escolas, independentemente de qualquer coisa que ocorra, poucas pessoas fazem isso com total clareza, e sem depreciar as agremiações. E muitas usufruem do mercado de shows, utilizando-se de nomes dos quais nem no dicionário existe. Por isso cabe a nós nos defendermos.

                                         Solange Couto, a mais famosas das " Mulatas do Sargentelli"

Aliás, existe diferença entre Rainha de Bateria, Madrinha de Bateria, Madrinha da Escola, Musa, enfim, mas isso é outro post.




Fonte:

http://www.dicio.com.br

http://www.dicionarioinformal.com.br/

http://www.priberam.pt/dlpo

http://www.trash80s.com.br/2009/12/homenagem-as-mulatas-do-sargentelli/



terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Corte do Carnaval 2011!




Para poucos o Concurso Rei Momo e Rainha do Carnaval Paulistano tem um significado importante. Mas ele é de extrema necessidade para o Sambista, e principalmente para as passistas que podem ali e naquele momento mostrar o que sabem fazer. No entanto, vínhamos de alguns concursos sem muita expressão no que podemos chamar de cenário carnavalesco, por exemplo, em 2009, ano que Camila Silva foi eleita Rainha, o concurso fora realizado no Auditório Elis Regina, local pequeno para abranger tantas pessoas, algumas chegaram a ficar do lado de fora. No ano seguinte, uma moça desconhecida pela grande maioria, Débora Caetano, enfrentou muitos obstáculos por conta disso, porém continuou o seu legado, firme.
Mas o que faltava no Concurso? Digo sem pestanejar, o sambista. Aquele que faz o carnaval acontecer, que conhecem e fazem as histórias do Carnaval, o concurso é o início de uma festa importante para cidade, e principalmente para nós, sambistas.
Antes de resolver participar, tentei ao máximo reaver aquelas que de certa forma deveriam estar lá. Consegui introduzir na cabeça de uma, mas sei que na cabeça de milhares era a hora do samba. Era a volta do Grande Auditório, hora de explodir de felicidade, antecedendo o Carnaval. E foi o que vi. Sambistas, sambistas, e sambistas. E vi uma Rainha que há anos não via, uma Rainha que fez valer sua coroa.
 E assim a noite de 07 de Janeiro entrará para história, pois sei que de certa forma escrevi mais uma página no samba, samba este que defenderei até o último minuto da minha vida. E principalmente, ao lado do pavilhão que me emociona, que faz parte de tudo que construí ao longo destes anos, para chegar aqui. Vai-Vai, minha família, meu amor.





segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A Musa do Povo!


Junto com muitos presentes que a escola de samba Vai-Vai me promove diariamente, existem pessoas que com certeza levarei para toda a vida.  Dentre elas estão Julia Belmonte, e não poderia deixar de dizer que a Mariana Lopes, adoro o Lopes, também. Meninas novas, inteligentes, articuladas, com temperamentos diferentes mas que me mostram  no que devo mudar. E de fato e de direto são o futuro da escola.
Julia me deu este presente, e me fez chorar. Pois sei que o carinho é uma coisa que não se compra e que vale a pena lutar por estes que virão e deixar que eles continuem o que outros começaram.

Como diria Wander Pires: Valeu!!! 
Amo vc!



By Julia Belmonte
No dia 7 de Janeiro, 12 anos após seu primeiro concurso, Lyllian Bragança estará concorrendo pela quinta vez à faixa de Rainha do Carnaval de São Paulo.
Embora nunca tenha sido Rainha do arnaval, Lyllian já foi princesa duas vezes, a primeira foi em 2000, quando foi a terceira princesa da corte inédita, que contava com uma rainha e quatro princesas, como candidata do G.R.E.S. Tom Maior. A segunda vez foi no ano de 2004, quando concorreu pelo G.R.E.S. Águia de Ouro e recebeu a faixa de primeira princesa.
Lyllian Bragança Silveira

Neste ano, Lyllian Bragança recebeu a faixa de Musa do Carnaval de São Paulo 2010, pelo programa Caldeirão do Huck. Assistindo o programa, vimos uma candidata espontânea, o que foi essencial para o seu julgamento.  



 Musa do Povo, com os meninos da Fundação Casa.


Lyllian é extremamente simpática, e o que faz dela a musa do povo é sem dúvidas: a humildade! Em pouco tempo de escola ela já conquistou seu espaço e é querida por componentes, ritmistas, diretores e Velha Guarda. Como prova desse carinho e aprecio, recebeu nesse ano o título de Madrinha dos Destaques, com apenas três anos consecutivos na escola.
Além de sambar e ser bonita, Lyllian uni aspectos importantes que toda ‘mulata’ deveria ter, tenta estar ao máximo ligada nas ações culturais e sociais da escola, se preocupa, indigna, ensina e valoriza a tradição do carnaval paulista.
Depois de passar por tantas entidades, chegou a hora da musa do carnaval ir para o concurso por uma escola grande, como o Vai-Vai. 



                 Quando a alegria encontra a raça, não tem pra ninguém!

Junto com o mérito de ser uma candidata da escola do povo, vem a pressão de uma escola de 80 anos, de uma comunidade forte que quer o nome da sua agremiação sempre glorificado. Com sua linguagem culta, postura e conhecimento, volta ao concurso mais experiente e digna de trazer a faixa para a Bela Vista.


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Professora, como sempre te digo: quando a alegria encontra a raça não tem pra ninguém! Se subir naquele no palco com sua espontaneidade e toda vontade de vencer, todos saberão que ali estará a Rainha do Carnaval. Mas se isso não acontecer, não tem problema, continuaras sendo a musa do povo e isso faixa nenhuma simboliza!

Vambora minha escola a hora essa!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Wander Pires!



Quando eu era pequena, assistia ao desfile do Rio e via aquelas mulheres sambando e pensava: "Um dia vou ser como elas". Mas em todos os momentos, a agremiação que mais chamava minha atenção era a Mocidade Independente de Padre Miguel, sei lá o porquê. E o intérprete na época era Paulinho Mocidade, que numa passagem pela Águia de Ouro, disse a ele que o via quando criança e que vê-lo na escola era um marco para mim.
Wander Pires assumiu o canto da Mocidade em 1990, ainda bem jovem. E eu que nada entendia continuava assistindo ao desfile, que naquela época era conduzido por ele, alimentada pelo amor à cultura, ao samba. Já em 1998, no Desfile Oficial na Marques de Sapucaí, tive a oportunidade de vê-lo, ouvi-lo, e conclui: é lindo ver uma pessoa que tem o DOM colocá-lo em prática na avenida. Foi ali que me tornei grande admiradora de seu trabalho.  E ele ainda tem outros atributos, bom, acessível, humilde, educado, como se mostrou. O detalhe que todos os intérpretes que vem para São Paulo se tornam "estrelas", ou porque os colocamos nessa posição, ou porque eles realmente vêm de grandes escolas. Sua passagem pela Mocidade Independente de Padre Miguel que o tornou a voz popular com o grito de guerra: “Vamos lá a hora é essa”.
E no domingo,24, sem medo, chorei ao ver que ele estava no palco da minha escola, do meu povo, cantando para o meu povo, e que aquela voz fará parte de uma grande história que será contada na avenida. Estou muito feliz, e mais, estou dividindo isso com todos que amo, principalmente, Lourival de Almeida Campos, Diretor de Carnaval da Escola.



Parabéns à Nação Vai-Vai.

O caminho está trilhado. Doa a quem doer.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Mestres do Samba


 Desfile da Nenê 2001, campeã juntamente com a Vai-Vai. Eu estava no carro abre-alas.

Mensurar o que os Mestres do Samba são, é complicado, mais ainda é  imaginar quem serão os próximos que farão história e que passarão às próximas gerações  as obras que nos foram deixadas.
Alberto Alves da Silva, Seu Nenê , fez história e deixa um legado. Criou seus filhos junto com a escola que fundou em 1949, Nenê da Vila Matilde. Para seu filho ele é  um ídolo Adalberto Alves da Silva, relata: " eu dividia meu quarto com instrumentos, dormia com eles no meu pé ". Carrega na veia a herança de seu pai, o amor ao samba.
Tive privilegio, numa tarde de 2004, no Anhembi, quando ainda trabalhavam Seu Juarez da Cruz (Mocidade Alegre)*, Seu Mello (Vai-Vai), Cleusa Viana (Mãe Cleusa)*, ver uma conversa que tornou-se discussão, mas logo virava festa entre eles, sobre suas peripécias no Carnaval." Corríamos da policia, sofremos bastante", lembrava Cleusa. " Dávamos umas pernadas, e fugíamos", dizia Seu Nenê, mas eram outros tempos, a nostalgia fazia parte do discurso dele. E sem medo de falar o que não lhe agradava, quem não lhe agradava, e que não aceitava muitas coisas que aconteciam no Carnaval, que ele ajudou a estruturar. Ele reclamava do andamento do samba: " o samba tá muito pra frente, não se faz mais samba como antigamente", referindo-se ao andamento acelerado do samba.
Acredito muito que o respeito para com estes que fazem história seja fundamental para criarmos a nova geração do Samba Paulistano. Com dor no coração me despeço do Seu Nenê, fundamental para o Carnaval Paulistano. Obrigada por contribuir para minha trajetória.




*Seu Juarez da Cruz, fundador da Mocidade Alegre também encontra-se no céu.
*Cleusa Viana, Mãe Cleusa, foi embora neste ano, e deixou para todos suas histórias.


No livro Memórias do Seu Nenê Da Vila Matilde, narrado por ele e organizado por Ana Maria vocês verão o quão importante ele foi para s, sambistas.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Escola do Povo.

Certa vez estávamos reunidos na quadra, e logo veio uma voz e indagou: "Mas porque escola do povo?"...Sem resposta, alguém disse: "Escola do povo é feio, não gosto". Rapidamente me veio à mente vários carnavais em que eu estava do lado de fora e via aquela escola, de mistura de raças, que cantava, e descia a avenida com tanta empolgação que sentíamos falta quando saiam. O meu querido companheiro prontamente defendeu aquilo que tanto acredita, definindo o que significa povo, mas para a escola acredito que seja maior, sempre digo isso a ele.
Enfim, escola do povo é o máximo, é uma escola que agrega todos e todas sem preconceito, e a voz dela ecoa com uma magnititude que todos têm um certo receio quando ela entra na avenida (me perdoe as co-irmãs, mas ser Vai-Vai é algo mais).
Ontem, na eliminatória na Vai-Vai, vi o quanto isso é grandioso. Ao meu lado estava o nosso ilustre homenageado que se emocionava a cada samba que o exaltava, e sua família também deixava a emoção transcorrer em suas faces. Lá em baixo a comunidade tinha japonês que cantava, tinha o Biel que se emocionara de tal forma que cheguei a sentir os soluços em sua voz. Tinha a Amandinha, que parecia gritar, mas eram tantos que só olhando para seu rosto veríamos a força com que cantava. Senhoras, senhores, crianças, o samba não tem idade, quando ele é cantado por todos e se torna a ESCOLA DO POVO.

TÁ CHEGANDO A ESCOLA DO POVO...VAI-VAI!

 O que seria um comentário é na verdade a síntese do que gostaria de passar e ele em poucas palavras descreveu.


 Por Gabriel Mello:


Ninguém faz samba só porque prefere!
Ninguém é do samba só porque prefere!

O Samba tem dessas coisas, desses truques e salamaleques que parecem vindos do outro lado do mar. Parece magia que vai te levando, te seduzindo, te envolvendo...

E nessa roda, cabem todos, todos aqueles que estiverem de peito aberto pra se envolver nessa delirante loucura que é o Carnaval.

Pitoresco, Instavel, Arrebatador, Belo, Cruel, Poderoso... Incrivel maquina de paixões.

E o nosso Vai-Vai é a sintese completa dessa folia. É o peso de um manto que ninguém é capaz de suportar sozinho e por isso, todos nós, nos unimos, em lagrimas e sorrisos, nessa "procissão de samba" que acaba e se reinicia todos os anos na mesma quarta-feira de cinzas.

A Paixão do Vai-Vai, o Cirio do Bexiga, A Lavagem da Bela Vista, a Peregrinação a Quadra...

Quão religioso é o nosso povo...
E quão religioso é o povo do Vai-Vai!

"Delírio Alvi-Negro"